O aumento das temperaturas pode elevar de forma expressiva as mortes de crianças menores de cinco anos no Brasil nas próximas décadas, apesar da redução prevista da população infantil. A conclusão é de uma análise da LSHTM com a Fiocruz Bahia, que avaliou impactos de dois cenários de emissões em 130 municípios entre 2049 e 2059. Hoje, a taxa média de mortalidade infantil associada ao calor é de 1,07 por 100 mil crianças. No pior cenário, com aumento de 4°C a 5°C (SSP5-8.5), as mortes podem subir 87%, chegando a 2 por 100 mil. Mesmo com emissões moderadas (SSP2-4.5), o crescimento pode atingir 50%, com taxa de 1,47 por 100 mil. O aquecimento pode, assim, reverter avanços recentes na sobrevivência infantil. Segundo a pesquisadora Enny Paixão Cruz, se nada for feito, o país enfrentará quase o dobro de óbitos infantis relacionados ao calor. O estudo utilizou dados de 2000 a 2019 e mostrou que cada 1°C acima do percentil 75 aumenta o risco de morte, com efeitos acumulados por até sete dias. Crianças são mais vulneráveis porque perdem fluidos mais rápido e têm maior risco de desidratação. Profissionais de saúde já observam mudanças: doenças respiratórias deixaram de ser sazonais e ocorrem o ano inteiro; também aumentam desidratações e infecções por dengue, zika e chikungunya. A poluição e ondas de calor elevam atendimentos pediátricos.
O impacto varia por região: Norte e Nordeste tendem a sofrer mais devido a desigualdades em saneamento, habitação e acesso à saúde. Crianças pobres são as mais expostas a secas, enchentes e à falta de serviços essenciais. Pesquisadores destacam que os cenários não são inevitáveis. Mitigação climática, sistemas de alerta, adaptação de escolas, creches e unidades de saúde, além de investimentos em saneamento, água potável e áreas verdes, podem reduzir os riscos. Profissionais devem ser capacitados para identificar precocemente desidratação e agravamento de doenças. Medidas efetivas agora podem evitar um futuro mais quente e letal para as crianças brasileiras.

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