O acordo final da COP30 deixou sensação agridoce entre os observadores. Houve avanços em temas sociais e no mecanismo de transição justa, mas novamente o texto evitou citar os combustíveis fósseis, responsáveis por 80% das emissões. Para Afra Balazina, da SOS Mata Atlântica, as recomendações científicas para manter o aquecimento em 1,5°C não foram incorporadas, e falta ambição nas decisões. Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, afirma que, nos dez anos do Acordo de Paris, os países tinham obrigação de responder à lacuna entre promessas e ações, mas o resultado não entrega o salto político necessário. A Decisão de Mutirão excluiu o plano de saída dos fósseis e, em seu lugar, a presidência da COP30 propôs produzir roteiros próprios, sem obrigatoriedade internacional. Para Carolina Pasquali, do Greenpeace Brasil, a “COP da Verdade” expôs a força do lobby dos fósseis e do agronegócio. Na plenária final, países como a Colômbia protestaram contra a omissão dos combustíveis fósseis, interrompendo a sessão.
A adaptação climática, tema central, resultou em texto mais fraco: há apenas um apelo para triplicar recursos em dez anos, sem valores definidos. Representantes de várias regiões criticaram critérios de avaliação pouco transparentes. O número de indicadores caiu de cem para 59, muitos imprecisos, segundo o WWF-Brasil. Também faltam caminhos claros para o financiamento de adaptação, diz a ONG 350.org. Apesar das fragilidades, houve avanços sociais. Grupos vulneráveis, como afrodescendentes e quilombolas, tiveram seu papel reconhecido. Foi aprovado um plano de gênero para a próxima década e registrada a maior participação indígena já vista. Três textos reconheceram explicitamente direitos territoriais indígenas como política central de mitigação. Também foi criado um programa de transição justa, com potencial para reduzir desigualdades se bem implementado.

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