OPINIÃO
Uma sábia decisão: Prêmio Nobel da Paz é negado a Trump
13 de outubro de 2025, 15h47
13 de outubro de 2025, 15h47
Uma sábia decisão: Prêmio Nobel da Paz é negado a Trump
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O Prêmio Nobel da Paz, quando instituído em 1901, nasceu com a vocação de distinguir aqueles que, em meio às convulsões do mundo, consagram suas vidas à conciliação, ao diálogo e à fraternidade entre os povos.
Não se trata de um troféu político ou de um artifício de propaganda, mas de um símbolo moral universal, destinado a reconhecer quem transformou o ideal da paz em ação duradoura e desinteressada.
Por isso, causava perplexidade a simples hipótese de se cogitar o nome de Donald Trump para uma distinção dessa natureza, por tratar-se de político cuja trajetória pública tem sido marcada pela retórica do confronto, pela degradação do debate cívico e pela fragmentação das alianças internacionais.
A paz não é fruto do exibicionismo diplomático nem do marketing eleitoral: é conquista lenta, feita de renúncia e de generosidade.
A comparação de Donald Trump com Mahatma Gandhi impunha-se de modo inevitável e desconcertante. Gandhi foi o apóstolo da não violência, o artífice de uma revolução moral sem precedentes — e, ainda assim, jamais recebeu o Nobel da Paz! O próprio Comitê Norueguês, décadas depois, reconheceu essa incompreensível omissão como um de seus mais graves equívocos históricos.
Se o mundo negou o prêmio ao homem que libertou uma nação pela força do exemplo e pela pureza da palavra (Gandhi), não teria sentido concedê-lo a quem, como Donald Trump, tantas vezes alimentou divisões, cultivouressentimentos, instrumentalizou a política como arena de hostilidade e valeu-se da prática da humilhação como arma simbólica de sua estranha política externa (como observa José Sócrates, ex-Primeiro-Ministro de Portugal), fundada em uma inconcebível “diplomacia do desprezo” (caso de Zelensky, entre outros)!
O Nobel não se destina a recompensar o poder, mas a celebrar a humanidade.
E a humanidade, neste caso, recomenda aplauso à não concessão a Trump do Prêmio Nobel da Paz!
Há pessoas e instituições que engrandecem o Prêmio Nobel da Paz! Nisso consiste o valor moral das distinções humanas! Seria esse o caso de Trump? Obviamente, não!
A “Oração aos Moços” (1920) — discurso, como patrono, aos bacharelandos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP) — contém uma das formulações mais belas do pensamento ético de Ruy Barbosa.
Nesse discurso — que foi lido pelo Professor Reynaldo Porchat —, Ruy Barbosa, o grande Advogado e jurisconsulto baiano (ele próprio formado pelas “Arcadas” do Largo São Francisco, Turma de 1870), distingue o mérito verdadeiro (que é moral e desinteressado) das honrarias exteriores, que são, em suas palavras, passageiras e corruptoras :
“As distinções humanas, meus senhores, valem não pelo que deslumbram, mas pelo que significam.
Não é o prêmio que faz o merecimento, é o merecimento que dá dignidade ao prêmio.
O aplauso da turba é o eco da vaidade; o reconhecimento silencioso das consciências é o selo da virtude.” (“Oração aos Moços”, $$ 48–49)
Como adverte Ruy, em outro texto lapidar, desta vez sobre “A Imprensa e o Dever da Verdade” (1919), impõe-se ter presente a função moral da palavra e da fama: “não basta receber homenagens, é preciso merecê-las! A honra exterior deve ser o reflexo de uma virtude interior, e não o disfarce de uma vaidade satisfeita.”
Conceder a Trump o Nobel da Paz, sem méritos concretos, seria uma distorção histórica do sentido do prêmio. Todo prêmio concedido sem méritoa quem quer que seja será, sempre, uma confissão de erro.
E a maior homenagem que se pode prestar à paz, em tempos de ruído, de violência, de intolerância, de pretensões inaceitáveis de superioridade étnica de um povo sobre outros e de vaidade ostensiva de governantes autoritários, consiste em respeitá-la, jamais em traí-la com o aplauso indevido e com decisões de pessoas ou de instituições subservientes!
O pensamento de Ruy Barbosa, acima exposto, ilumina, com notável atualidade, a reflexão contida neste texto.
A crítica à hipótese de se premiar Donald Trump com o Prêmio Nobel da Paz, enquanto Gandhi jamais o recebeu, não era — nem ainda o é — uma simples discordância política: era — e sempre o foi — uma reação moral, moldada pela mesma lógica que Ruy formulou há mais de um século.
Do mesmo modo, outorgar o Nobel da Paz a quem dividiu, em vez de unir, a quem construiu muros, em vez de fortalecer a amizade entre as nações, a quem desrespeitou a dignidade de imigrantes e de estrangeiros , em vez de reconhecer neles a face humana da esperança e da coragem, seria converterum símbolo moral em objeto de repulsiva vaidade pessoal!
Assim, enquanto Gandhi repousa sem o Nobel da Paz, todo prêmio sem mérito será apenas o reflexo da vaidade humana, e não a luz de um positivo julgamento moral!
Por isso, quando se cogitou conceder tal honra a quem erigiu muros, em vezde pontes, fomentou rancores, em vez de reconciliação e confundiu o poder com a verdade, a consciência universal estremeceu e se mostrou profundamente indignada!
Porque há símbolos que não podem ser profanados sem que o próprio sentido que eles representam se degrade e se dilua!
O nome de Mahatma Gandhi — o homem desarmado que enfrentou o império britânico — paira como uma interrogação moral sobre a história do Nobel da Paz.
O Comitê de Oslo jamais o premiou.
E, no entanto, o mundo inteiro lhe conferiu, sem deliberação e sem voto, o título mais alto que um ser humano pode receber: o de testemunha viva da paz.
Como, pois, justificar que o mesmo galardão pudesse ser outorgado a quemtantas vezes, como Trump, transformou a palavra em arma, o discurso em cisão, e a política em espetáculo de vaidade?
Em suma: a não concessão a Donald Trump do Prêmio Nobel da Paz , por constituir a decisão mais sensata e correta do Comitê Norueguês, impediu que se consumasse, no plano ético-político, um monumental erro histórico, que vergonhosamente transformaria essa honrosíssima distinção em ironia , e o laurel em caricatura…
Uma meditação sobre o valor moral do Prêmio Nobel da Paz, a omissão histórica inescusável em relação a Mahatma Gandhi e o paradoxo de se cogitar sua concessão a quem simbolizava — e ainda simboliza — o oposto do ideal que o prêmio pretende consagrar constituíam, como ainda constituem, razões idôneas plenamente justificadoras da NÃO outorga, a Donald Trump, dessa imensa honra!
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