Marcos Augusto Gonçalves
Editor da Ilustríssima, formado em administração de empresas com mestrado em comunicação pela UFRJ. Foi editor de Opinião da Folha

Netanyahu e Trump representam ameaça existencial ao mundo
Ataque ao Irã agrava cenário, enquanto segue a campanha criminosa contra palestinos e a sabotagem ao multilateralismo
O ataque "preventivo" contra o Irã determinado pelo premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, com a ajuda do presidente dos EUA, Donald Trump, é um sonoro e perigoso desastre.
Em desrespeito às regras do direito internacional, um país foi agredido sob a alegação de que estaria prestes a produzir um artefato nuclear —paradoxalmente, no transcorrer de um processo de negociações diplomáticas a respeito do assunto.
Os dois líderes, notórios trampolineiros à frente de países com poderio nuclear, investiram numa ação irresponsável, acenando com resultados que não foram atingidos. O cenário global poderá agravar-se, oferecendo ao regime iraniano mais motivos para buscar a bomba, que lhe daria capacidade de defesa e influência regional.
Netanyahu justificou os ataques ao considerar que o Irã representaameaça existencial a seu país.
Como deveria então ser classificada a operação genocida em Gaza, que já vai muito além do que seria uma resposta legítima ao atentado terrorista do Hamas? "Ameaça existencial" parece pouco para designar a campanha criminosa contra o povo palestino, que o palavreado oficialista chama de "obliteração" de Gaza —a destruição, a matança indiscriminada de civis, crianças e mulheres e a inominável tortura pela supressão de víveres. E o que dizer da colonização da Cisjordânia? Algum adulto na sala realmente acredita que Netanyahu tem em mente uma "solução de dois Estados"?
Trump, que tende a considerar as manifestações de exaustão de boa parte da sociedade americana com guerras longínquas e injustificáveis, deixou-se atrair para a aventura, quem sabe por não resistir à tentação de exibir mais uma vez ao mundo o falo geopolítico e militar de seu país, que agora se confunde com o seu.
Os dois colegas de supremacismo e inclinações autocráticas são na realidade uma ameaça existencial a um mundo melhor. O republicano do movimento Maga (Make America Great Again) investe contra a ordem liberal, o livre comércio, as instituições democráticas e os direitos civis. Netanyahu é um criminoso de guerra, que coloca suas ambições acima de tudo.
Nada disso faz da teocracia que substituiu o regime do xá Reza Pahlavialguma coisa menos sinistra do que sempre foi. O mundo não é um lugar de líderes virtuosos com índole secular e democrática.
A realidade, para chover no molhado, é complexa, e o caminho da diplomacia e do multilateralismo seria o mais razoável, embora —ou por isso mesmo— poucas vezes tenha sido tão sabotado.
São sugestivos os sinais de que a ordem mundial de Trump leve em conta, do ponto de vista militar, o respeito às áreas de influência das superpotências —Rússia, China e sua América.
A Europa, ainda um polo de defesa de direitos e princípios civilizatórios, é empurrada para um limbo geopolítico —e o resultado será investir mais em militarização.
No Oriente Médio, Trump tenta dar as mãos para a ditadura monárquica da Arábia Saudita e o governo da extrema direita de Israel. Rússia e China se manifestam discretamente e não se metem.
Sendo assim, enquanto o conflito na Ucrânia prossegue e a guerra liderada por Israel também, não é improvável que a China logo se sinta mais à vontade para realizar seu projeto de anexação de Taiwan. Ameaça é o que não falta.
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