O ex-presidente Donald Trump, que acaba de ser fragorosamente derrotado na eleição que se processou nos Estados Unidos, neste mês de novembro/2022, parece encerrar sua carreira política, mesmo sabendo que ele insistirá em ser o candidato, em 2024, pelo Partido Republicano. As possibilidades, entretanto, de lograr êxito nesta empreitada é difícil. Donald Trump foi o único presidente derrotado numa campanha de reeleição, desde o ano de 1992, quando outro republicano não conseguiu permanecer no cargo por mais quatro anos. A vitória de Bill Clinton afastou a pretensão de George HW Bush. Diferentemente de Bush, Trump não aceitou o resultado da eleição e, além de incitar seus apoiadores a invadir o Capitólio, manteve a acusação, sem nenhuma prova, de que ele foi o vitorioso e houve fraude. Ademais, Trump poderá tornar-se inelegível pelas arruaças que promoveu, inclusive com apropriação de documentos secretos da Casa Branca; foi necessária a busca e apreensão em sua residência, na Flórida, pelo FBI, onde recolheu a papelada sigilosa. Tanto nos Estados Unidos, como no Brasil não é comum um presidente no exercício do cargo ser derrotado, considerando, principalmente, o fato de o mandatário dispor de todos os benefícios na atividade de comando do país.
Semelhante a Donald Trump e tão arruaceiro quanto ele, no Brasil, o fenômeno é semelhante. O atual presidente Jair Bolsonaro foi o primeiro governante derrotado na tentativa de reeleição, desde a permissão concedida pelo sistema eleitoral, em 1998. Todos os presidentes no exercício do cargo habilitaram-se à reeleição e permaneceram no poder por mais quatro anos. Foi o caso de Fernando Henrique, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef. Bolsonaro não; a surpresa para ele foi tamanha que, após o resultado, resistiu em aceitá-lo; sobreviveu por quase 48 horas sem se manifestar, nem aparecer em público, e nunca predispôs a reconhecer seu concorrente como eleito, apesar de, posteriormente, ter autorizado seus assessores a facilitarem os trabalhos da transição. Os bolsonaristas não invadiram o Congresso, mas criaram os maiores tumultos, bloqueando rodovias e pontos estratégicos nas cidades do país, questionando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Passados 15 dias, os apoiadores de Bolsonaro persistem em objetar a lisura do pleito do dia 30 de outubro, quando se deu o segundo turno. Após a proclamação do eleito, Bolsonaro trancou-se no Palácio da Alvorada e pouco deslocou-se para o Planalto; calcula-se que, desde sua derrota, ele deu expediente em média uma hora por dia. Bolsonaro, como Trump, devem pendurar as chuteiras, porque não terão fôlego para nova investida para governar os Estados Unidos ou o Brasil.
Tanto Trump quanto Bolsonaro desafiaram o establisment político, manifestando aos seus seguidores para desacreditar nas medidas de combate à pandemia, com o isolamento social, uso das máscaras e até indicando medicamentos não autorizados pelos órgãos sanitários. Enquanto Trump vociferava conta a líder da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, o presidente brasileiro berrava contra o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia. Nesse cenário, muitos americanos e muitos brasileiros perderam a vida, face ao descrédito dos dois líderes contra as diligências das autoridades. No Brasil, Bolsonaro ainda foi mais radical, porque sua retórica direcionou-se contra a própria democracia, atacando e desmoralizando o Poder Judiciário e seus ministros, ao ponto de prometer não acatar suas decisões
Salvador, 15 de novembro de 2022.
Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.
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