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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A PROFESSORINHA E O MORCEGO

O servidor do Judiciário é bastante explorado, em sua atividade funcional, mas não há missão mais desgastada, mais depreciada do que a de magistério, em qualquer nível.

Outro dia, descrevi sobre a “professorinha”, título que uso com muito carinho, para mostrar as injustiças que se praticam contra nossas mestras.

Aqui vai a descrição da visita que fiz a uma professorinha, em uma escola rural, no oeste da Bahia.

Quanta alegria senti e quanta alegria transmiti!

O lugar está distante da sede da cidade em torno de 5 (cinco) quilômetros e a professora, Lúcia Helena, é dessas pessoas determinadas e abnegadas pelo que faz; desloca-se todos os dias, por volta das 7.00 hs, para a escola municipal Ernesto Ferreira da Silva, homenagem a um ruralista, nascido e criado em Baraúna. Nessa unidade escolar, fundada em 1981, Lúcia junta-se a sua colega, professora Edcássia Rodrigues, que reside nas imediações, suas auxiliaries Maria Glória e Célia Lopes, mais 39 (trinta e nove) crianças, num ambiente acolhedor, higiênico e onde está seu mundo, sua alegria, seu motivo de viver; o contentamento é contagiante para todos. A professora só retorna para casa no fim da tarde, mas já volta pensando no dia seguinte.

Na verdade, o prédio não foi sempre limpo, pois, no início, era ocupado por morcegos que voavam em todas as salas, de tal forma que muitos alunos desistiram de estudar, porque amedrontados, ainda mais quando tomaram conhecimento de que esse mamífero nutre com o sangue das pessoas, apesar de apenas 3 (três) das 1000 espécies, serem hematófagos, ou seja, alimentam-se exclusivamente de sangue. 

A professorinha, com ajuda do povo, conseguiu melhorar, higienizar e iluminar o ambiente escolar, conquistando, dessa forma, afugentar com os morcegos e baratas, tornar o prédio perfeitamente adequado para recebimento das crianças, que retornaram, agradando aos seus pais, que adoram as providências da professorinha.

Mas vamos à visita.

Aconteceu na parte da tarde e as crianças já esperavam pelo visitante, que agendou o comparecimento a à Baraúna na véspera; do lado de fora do prédio, devidamente uniformizados e enfileirados, comandados pela professorinha, iniciou-se a solenidade de recebimento; cantaram “Acolhida”, que emocionou a todos.

Fomos para a sala de aula e os alunos sentaram-se nos seus lugares, em cadeiras novas e limpas. Cantaram: “Meu Galinho” e outras músicas. O domínio das letras era absoluto e o entusiasmo da “meninada” entusiasmava a todos.

O contato direto e a dedicação da professorinha para com os alunos mostra o crescimento educacional deles. É motivo de orgulho para os pais ter seus filhos sob os cuidados dessa professorinha.  

Muito bonito!

A professora Lúcia foi a primeira a falar, relembrando passagens da vida de professor do visitante no Educandário Diocesano Sant”Ana; disse que foi sua aluna e contou passagens, a exemplo da descrição sobre o tema: “um pingo d’agua”. Rememorou mais alguns fatos e o visistante “quase desaba” de emoção.

As homenagens prosseguiram com a manifestação da diretora, professora Marília, que teceu elogios à professorinha, assegurando que a escola Ernesto Ferreira da Silva destaca-se pelo empenho e dedicação de Lúcia; alguns meninos de idade media de 8 anos foram à frente e contaram histórias, aprendidas em sala de aula, em admirável desenvoltura.

Em outra sala, a professorinha criou uma galeria dos mestres, relembrando os antecessores, muito comum nos fóruns; em outro ambiente foi-nos mostrada a biblioteca com livros doados; também lá estavam um televisor, um mimeógrafo, mercê dos admiradores do trabalho de Lúcia; na última sala os padrinhos da escola, com fotos do juiz de direito Fernando Paropat e do visitante.

Certamente, em muitas cidades, em muitos distritos encontram-se professorinhas no perfil de Lúcia Helena, que ensina a ler, a escrever e a fazer contas, demonstrando possuir mais que vocação, viver um sacerdócio, motivado por sua crença no futuro das crianças. Professorinhas como Lúcia criam cidadãos, dão dignidade, caráter e moral, apesar de a sociedade negar-lhe o reconhecimento pelo trabalho que promovem.

Salvador, 21 de agosto de 2014.

Antonio Pessoa Cardoso

PessoaCardosoAdvogados

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