A partir dos anos 2010, o STF passou a receber indicações cada vez mais alinhadas pessoal e ideologicamente aos presidentes. Isso consolidou um tribunal em que a maioria opera politicamente, respondendo a sinais de Executivo e Congresso. A indicação de Jorge Messias apenas confirma esse ciclo. Não se trata de distinção entre indicações “técnicas” e “políticas”: toda indicação ao STF sempre foi política. Todo ministro também é ator político, dado o impacto de suas decisões. O que muda é o grau: o Supremo hoje age como participante direto da disputa política. Reage ao dia a dia institucional e dialoga com os Poderes fora dos autos. Esse movimento acelerou a partir de 2010, quando o tribunal arbitrou crises e ocupou lacunas legislativas. A composição recente reforça essa vocação. Ministros como Moraes, Nunes Marques, Mendonça e Dino adotam postura pragmática e politizada. Interagem com atores políticos antes e depois de decidir. Messias tende a integrar esse grupo. Isso não implica abuso automático, mas altera o funcionamento do tribunal. A transformação não sustenta a acusação de “ditadura judiciária”. O fenômeno tem raízes em nomeações anteriores, como Jobim, Gilmar, Toffoli e Moraes. A sociedade também empurrou o STF para protagonismo, recorrendo a ele para resolver impasses. Assim, o tribunal virou formulador de regras e primeiro decisor de grandes temas. Dentro do STF, alguns ministros sempre estimularam essa expansão. O critério de indicação mudou: pesa mais a afinidade política do que a produção jurídica.
A juventude do indicado virou vantagem estratégica. Isso gera custos: indicado e presidente passam a ser vistos como inseparáveis. A proximidade política afeta a percepção de independência. A autoridade judicial não impede atitudes políticas. O funcionamento real do STF depende dos perfis individuais dos ministros. Esse perfil politizado não era dominante nas indicações de Lula e Dilma. Hoje, ministros chegam predispostos a governar, negociar e gerir. O STF passa a ocupar espaços do Legislativo e limita sua atuação. A pressão social sobre o Congresso diminui. Messias simboliza um Supremo confortável em agir como legislador ou gestor. Isso estreita ainda mais sua relação com o poder político. O risco é o STF ser visto como ator político, não jurídico. O tribunal precisa recuperar a imagem de colegiado de juízes, não de protagonistas da arena política.
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