Comentaristas russos ameaçam 'só parar em Lisboa' enquanto Putin intensifica retórica contra apoio europeu à Ucrânia Retórica usada por potências para justificar agressões lembra táticas de Hitler antes da Segunda Guerra Mundial
Escrevo de Lisboa e, para mim, é desagradável que os comentaristas da televisão russa, cujas opiniões frequentemente aparecem traduzidas nas redes sociais, insistam em concluir as suas falas contra a Europa dizendo que "se for necessário, só pararemos em Lisboa".
É com essa perspectiva que se devem interpretar as publicações do ex-presidente russo Dimitri Medvedev, hoje vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, que regularmente as termina enfatizando o objetivo de "uma Europa aberta, de Lisboa a Vladivostok". Uma Europa aberta, bem entendido, às exigências e aos caprichos do Kremlin.
Que guerra é essa que Putin diz que a Europa quer? Apoiar a Ucrânia na defesa do princípio básico de que um país não pode ser retalhado pelo seu vizinho mais poderoso e armado?
A atitude de Putin é igual à de tantos agressores que culpam as vítimas pelas suas agressões. Também Adolf Hitler dizia em 1939 que o seu "amor pela paz" e a sua "infinita paciência" não deveriam "ser confundidos com fraqueza ou mesmo com covardia". E no dia seguinte à invasão da Polônia, naquele ano, mentiu dizendo que Varsóvia havia disparado pela primeira vez contra o território alemão para chegar à conclusão que sempre desejou: "De agora em diante, bomba será paga com bomba!"
Estarão os europeus sendo paranoicos ao levar a sério as frases de Putin e companhia? O que deveríamos fazer, então?
Tal como as migrações são descritas como invasões para justificar a repressão armada, o tráfico de drogas é empacotado numa retórica de "envenenamento e narcoterrorismo" que não é mais do que a invenção de um "casus belli", um pretexto para a guerra, quer ele venha mesmo a ser usado ou não.
Mesmo para quem não gosta de Nicolás Maduro e rejeita o seu regime autoritário que posa como bolivariano, é evidente que isso não passa de uma farsa com consequências potencialmente perigosas.
Lá Fora
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Nesse sentido, a América Latina e a Europa têm mais em comum do que costuma ser notado. Somos ambos conjuntos de países diversos, por vezes traumatizados, mas de forma geral pacíficos, que têm de partilhar o seu continente com um vizinho que reagiu mal à sua decadência imperial e deseja regressar à sua "esfera de influência" original, mandando nos vizinhos à sua volta.
Exagero? "Só porque és paranoico não quer dizer que não andem atrás de ti", diz uma frase que ninguém sabe muito bem quem inventou. A questão para mim, hoje, é saber a quem ela se pode aplicar.
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