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domingo, 14 de novembro de 2021

COLUNA DA SEMANA

Sergio Moro foi sempre elogiado por seus superiores durante pouco mais de 20 anos na magistratura federal. Não recusou o convite para assumir a liderança da mais incensada operação de combate à corrupção em todo o mundo. Com coragem invulgar empunhou a bandeira contra o crime organizado, na Operação Lava Jato, combatendo diuturnamente os antros da devassidão praticada com o dinheiro público, localizados nos palácios governamentais, no Congresso Nacional e nas maiores empresas do país. Enveredou por caminhos pedregosos que poucos sabem avaliar o alcance da luta empreendida para processar e prender criminosos ourudos, formados por políticos e empresários poderosos. Eu posso refletir sobre a avenida que o juiz federal de Curitiba percorreu, porque, em dose mínima, encarei, no exercício da magistratura estadual, obstáculos criados por políticos aos quais não atendi em pretensões censuráveis; causou-me perseguição capaz de brecar maior brevidade de ascensão na careira. 

Mas voltemos para Moro, responsável pela condenação dos mais poderosos ladrões deste país. Condenou um dos mais populares presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que enganou e continua ludibriando as massas populares com palavras que não representam seu ideário político, mas prestam-se para enriquecer a si próprio, aos seus filhos e amigos. O mesmo caminho, só que com outra bandeira, trilha o atual presidente, Jair Bolsonaro, que trabalha para locupletar sua família e ainda engambela o povo com a ostentação de honestidade e religiosidade. Enquanto um arrota admiração pelo ditador Nicolas Maduro, da Venezuela, o outro beija os pés de Donald Trump, mentiroso contumaz e truculento ex-presidente dos Estados Unidos. Na 13ª Vara Federal de Curitiba, Moro proferiu mais de 200 sentenças condenatórias com penas que somam mais de 2 mil anos, contra mais de 140 corruptos, entre os quais políticos de vários partidos, PT, PR, PSDB, PMDB, PTB, SD e muitos empresários.

Pois bem. Sergio Moro foi convidado pelo presidente Jair Bolsonaro logo após sua eleição e prometeu-lhe "carta branca" para comandar o Ministério da Justiça; todavia, Moro não aceitou o cargo para encobrir crimes e Bolsonaro temia as investigações da Polícia Federal contra ele próprio e seus filhos, no escândalo da rachadinha e das milícias do Rio de Janeiro. Preocupado com as averiguações terminou demitindo o sério e competente delegado Maurício Valeixo, que ajudou o magistrado na perseguição aos corruptos da Lava Jato, em Curitiba. Para Moro não restou outra alternativa que não o pedido de demissão, deixando mais de 20 anos na Justiça Federal, porque acreditou na boa intenção do presidente. Daí em diante, Bolsonaro passou a interferir na Polícia Federal, comprometendo o andamento do processo aberto para apurar sua intromissão no órgão. O resultado é que já se foram quase dois anos e o processo continua na fase investigatória. Mas Bolsonaro não descuidou de humilhar a Polícia Federal, através de punições políticas: desde que Moro deixou o Ministério, 18 agentes federais, foram castigados por atingir interesses da família Bolsonaro.

Sergio Moro resolveu aceitar convites e filiou a um partido político, dependendo do apoio popular, nas pesquisas, para lançar sua candidatura à presidência da República. Mas bastou esse posicionamento para merecer de Bolsonaro e de Lula o ódio e acusações infundadas. As redes sociais estão infestadas de incriminações contra Moro e os fanáticos de um e outro desdenham os benefícios deixados pelo magistrado, tanto na carreira jurídica, quanto no pouco tempo no Ministério da Justiça. A carolice dos lulistas e bolsonaristas passou a propagar exprobração contra o magistrado, festejado como herói, durante todo o tempo que esteve prestando seu serviço à Operação Lava Jato, destruída por tribunais superiores, juntamente com políticos e empresários.

Salvador, 13 de novembro de 2021.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.

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