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segunda-feira, 15 de junho de 2020

EM BUSCA DE NOVOS CAMINHOS (I)

Educandário Diocesano Sant'Ana e ao fundo M. Felix
A área educacional, no interior, Oeste da Bahia, nos anos 1960, apresentava deficiências de toda ordem. A solução para essa lacuna, própria e natural dos municípios da região, foi resolvida com a chegada de um padre que se tornou pároco e depois educador. Era o Monsenhor Felix Souza. Este sacerdote desafiou as dificuldades e criou o Educandário Diocesano Sant’Ana, respeitado em toda a região; dele saíram profissionais do Direito, de Medicina, do Jornalismo, de Engenharia e de outros segmentos. O padre Felix, como ele queria ser chamado, sem o Monsenhor, obtido em sua caminhada religiosa, diferentemente de seus colegas, desde que desembarcou em Santana, pouco antes do ano de 1950, não deixou mais a paróquia ou a direção da escola que ele fundou, posteriormente; só saiu de Santana para o cemitério, no ano de 2008, quando faleceu. Nenhum bispo atreveu-se a transferir o maior educador de toda aquela região para outra paróquia. Aliás, com o tempo, ele dedicava somente à escola e criou uma irmandade católica, "Filhas de Fátima", formada por moças religiosas, que se entregavam à Congregação para difundir os princípios da religião católica e ajudar no Educandário. Mas não se pode esquecer de rememorar a homenagem concedida pelo ex-governador do Estado da Bahia, Roberto Santos, ao padre Felix, pela dedicação à educação no interior. Todavia, o padre nunca mencionou esse título para ninguém.

Por muito tempo, o Educandário só dispunha dos cursos primário, ginasial ou comercial, correspondentes ao primeiro grau e pedagogia. Nada mais. Era a única escola, na cidade, que avançava além do curso primário; muitos estudantes matriculados no Educandário originavam-se de cidades como Correntina, Santa Maria da Vitória, Barreiras, além de outros municípios vizinhos; as famílias mandavam os filhos para a “escola do padre”, porque sabiam do conceito, em termos de religião, de moral e de ensinamento, além da seriedade, princípios norteadores da educação que se professava. Desnecessário dizer que eu e meus três irmãos saímos do Educandário, para continuar os estudos, em Salvador; minha única irmã seguiu o destino das estudantes. 

Interessante era a acentuada diferença entre os estudantes e as estudantes, de Santana; estas, muito raramente, recebiam permissão dos pais para estudar em outra cidade; concluíam o curso de pedagogia no Educandário, e, após as grandes homenagens pela conquista, submetiam à concurso público para ensinar nas escolas públicas estaduais ou habilitavam para as escolas do município; aí ficavam e eram bastante assediadas para casamento, face à importância que se concedia a quem terminava o curso de pedagogia. Mas as professoras, refiro-me as mulheres, porque muito dificilmente havia professores. Essas mestras eram respeitadas, consideradas e cultuadas; os pais de família tinham verdadeira adoração por essas profissionais. Algumas poucas mulheres, deslocaram para Barra/BA, Pirapora/MG ou para Salvador, cidades preferidas daquelas que recebiam autorização dos pais para estudar em outra cidade; todavia, a maioria retornava para o município, depois que ultimavam os estudos, e aí dedicava a exercer a sublime missão de ensinar. Todas elas eram admiradas e, sem dificuldade, encontravam logo cedo um parceiro para o casamento, pois estava garantido o futuro.

Naqueles anos, a conclusão do curso primário tinha como sequência o exame de admissão, espécie de vestibular para cursar o ginasial ou comercial. Depois desse período de quatro anos, eu deixei a cidade e rumei para Salvador; contei com a ajuda de meu pai, próspero comerciante; na capital, saí à procura de emprego e as tentativas eram inúmeras, porque eu estudava pela manhã e tinha de encontrar emprego compatível com esse horário. Fui aprovado como locutor, em carro que percorria a cidade fazendo propagandas, mas não consegui compatibilizar horário e atrapalhava meus estudos, no Colégio Central da Bahia, na Avenida Joana Angélica, onde está até hoje; alguns meses depois, fiz concurso interno no Banco Português, e fui trabalhar na Rua da Grécia, no comércio. Foi meu primeiro emprego. Quanta alegria!

No próximo capítulo vamos tratar da viagem de Sitio do Mato para Lapa e conhecer algo sobre os vapores do Rio São Francisco, a exemplo do Benjamin Guimarães, do Barão de Cotegipe, do Wenceslau Braz e do Djalma Dutra, que navegavam, conduzindo pessoas e mercadorias, no trecho Pirapora/MG a Juazeiro/BA.

Salvador, 06 de junho de 2020.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.

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