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sábado, 10 de abril de 2021

COLUNA DA SEMANA

        OS JUÍZES DE ANTIGAMENTE

A carreira de magistrado perdeu muito de seu encantamento. O juiz de tempos passados sempre residia na comarca, em casas de aluguel, realizava audiências de segunda a sexta feira, integrava e participava das necessidades da comunidade. O magistrado não se envolvia em questões controversas da comarca, mas funcionava como maior conhecedor para sugerir sobre a vivência das pessoas, sempre que solicitado. O respeito ao magistrado era total, porque profundamente discreto. O juiz era um ser incomparável no seu meio, vez que tinha a dignidade que os habitantes do município esperavam dele. Por outro lado, e talvez para obter toda a reverência junto aos munícipes, mantinha uma vida sacerdotal. O juiz não frequentava certos ambientes da cidade e muito menos se dispunha a comparecer em todas as festas para as quais era convidado; ele era um ser diferente e os servidores devotavam-lhe verdadeiro amor, admiração e procuravam adivinhar sobre suas necessidades pessoais e profissionais. Isso ocorria, porque os servidores sabiam e comprovavam sobre a compreensão que o magistrado dispensava  aos seus fiéis assessores. Reinava a paz e verdadeira amizade entre o juiz e o servidor, pois um prestava assistência ao outro.   

O magistrado não interferia na política local, mantinha algum distanciamento das autoridades locais e gozava de sua respeitabilidade, mostrando sua imparcialidade e independência nas decisões, não deixando suas convicções pessoais interferir nas suas sentenças, visando principalmente garantir a integridade do sistema judicial. O magistrado de maneira geral era recatado e avessos ao protagonismo, vigente na atualidade.  

O juiz queixa-se na atualidade de sua remuneração que, realmente, não acompanhou a desvalorização da moeda, apesar de a Constituição garantir-lhe salários corrigidos. Todavia, os tempos são outros e todas as classes reclamam de seus vencimentos. Que dizer, por exemplo, dos professores! Mas, os juízes de antanho tinham uma vida mais sacrificada que os de hoje, pois a remuneração mal dava para custear suas despesas, consistentes na moradia, normalmente em casas alugadas e no transporte. Os juízes não dispunham de assessoria alguma e tinham de redigir seus despachos, suas sentenças e seus acórdãos. Com tudo isto, os juízes eram respeitados, porque honestos, humanos e não tratavam as pessoas com arrogância. 

O tempo passou e muita coisa mudou. Desde o interior até as capitais, desde o juiz da pequena comarca até a maior e mais importante Corte de Justiça, a credibilidade no magistrado despencou frente às inúmeras ocorrências que não se registravam anteriormente. Aliás, os tribunais superiores, especialmente o STF, tem contribuído para diminuir o encantamento do povo com a magistratura. 

Salvador, 09 de abril de 2021.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.     

  

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