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quarta-feira, 30 de abril de 2025

SAIU NA FOLHA DE SÃO PAULO

 
 O QUE A FOLHA PENSA

Governo de Donald Trump envelhece depressa

Presidente republicano abusou da verborragia e da caneta nos primeiros cem dias, mas apenas colhe graves problemas

Um homem sentado em uma cadeira de escritório, usando um terno escuro e uma gravata vermelha. Ele está gesticulando com a mão direita enquanto segura uma caneta na mão esquerda. À sua frente, há uma mesa com papéis e uma caneta. O fundo é composto por cortinas douradas.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos -  Evelyn Hockstein/Reuters

 A surpresa dos primeiros cem dias do segundo governo de Donald Trump está mais associada ao ímpeto, ao método e à velocidade naimplantação de sua agenda nacional-populista do que ao teor das medidas, que havia sido fartamente antecipado nos quatro anos em que passou fora da Casa Branca.

A ideia era transformar os Estados Unidos num país mais fechado ao comércio internacional e à imigração, sabotar a aliança entre nações desenvolvidas democráticas, reformar por razão ideológica a burocracia federal e subjugar organizações consideradas hostis pelo trumpismo, como as universidades de elite.

O radicalismo da plataforma, numa nação em que o poder presidencial é limitado por constrangimentos constitucionais seculares, requereria o esforço planejado e concentrado de políticos e profissionais talentosos, a definição de prioridades e a paciência dos reformistas para iniciar agora um processo que apenas ao longo dos anos daria frutos.

Nada disso combina com o presidente Trump. Numa corrida destrambelhada, ele pôs-se a assinar decreto atrás de decreto na expectativa de transformar a ordem das coisas à sua imagem e semelhança. Em cem dias de frenesi, acumulou problemas graves nas diversas frentes que abriu sem colher nenhum bônus.

As famílias norte-americanas estão no pior dos mundos. Um choque de preços está a caminho, pelo encarecimento abrupto de bens importados, e poderá associar-se a um choque de juros, fruto da desconfiança no dólar sob Trump, o que não é trivial num país em que muitos se acostumaram a sustentar dívidas elevadas.

As empresas tampouco conseguem se planejar em meio à mudança constante de regras e preços. Cadeias de fornecimento foram duramente atingidas, e decisões de investimento ficarão suspensas até que se tenha um quadro mais claro do estrago.

A chuva de decretos de Trump enfrenta dificuldade crescente na Justiça, o que com o tempo reduzirá a efetividade do frêmito mudancista. Universidade centenária de bolsos recheados, Harvard sabe que sobreviverá ao assédio de um governo passageiro e por isso não se dobra à chantagem intervencionista da Casa Branca.

Se o Congresso de tênue maioria republicana faz vista grossa ao assalto de suas competências pelo Executivo, a situação pode mudar em novembro de 2026, quando todos os assentos da Câmara e um terço dos do Senado entrarão em disputa. A popularidade de Trump, em queda, hoje não ajudaria seus correligionários.

Como havia ocorrido na pantomima encenada com o ditador norte-coreano no primeiro mandato, as bravatas do mandatário não puseram um fim súbito à agressão russa na Ucrânia. O presidente dos EUA mal esconde sua simpatia por autocratas.

Trump abusou da verborragia e da tinta da caneta na arrancada inicial, mas a impressão é que isso só acelerou a obsolescência. Seu governo envelhece rapidamente.

editoriais@grupofolha.com.br


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