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sexta-feira, 27 de junho de 2025

SAIU NA FOLHA DE SÃO PAULO

Marcos Augusto Gonçalves

Editor da Ilustríssima, formado em administração de empresas com mestrado em comunicação pela UFRJ. Foi editor de Opinião da Folha

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Marcos Augusto Gonçalves

 ESTADOS UNIDOS  ISRAEL

Netanyahu e Trump representam ameaça existencial ao mundo

Ataque ao Irã agrava cenário, enquanto segue a campanha criminosa contra palestinos e a sabotagem ao multilateralismo


O ataque "preventivo" contra o Irã determinado pelo premiê de IsraelBinyamin Netanyahu, com a ajuda do presidente dos EUA, Donald Trump, é um sonoro e perigoso desastre.

Em desrespeito às regras do direito internacional, um país foi agredido sob a alegação de que estaria prestes a produzir um artefato nuclear —paradoxalmente, no transcorrer de um processo de negociações diplomáticas a respeito do assunto.

A imagem mostra dois homens sentados em cadeiras em um ambiente formal. À esquerda, um homem com cabelo grisalho e terno escuro, e à direita, um homem com cabelo loiro e terno escuro. Entre eles, há um modelo de avião em uma mesa. O fundo apresenta uma lareira decorada e elementos de luxo.
Binyamin Netanyahu (à esq.) em encontro com Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca, em Washington -  Saul Loeb - 7.abr.25/AFP

Os dois líderes, notórios trampolineiros à frente de países com poderio nuclear, investiram numa ação irresponsável, acenando com resultados que não foram atingidos. O cenário global poderá agravar-se, oferecendo ao regime iraniano mais motivos para buscar a bomba, que lhe daria capacidade de defesa e influência regional.

Netanyahu justificou os ataques ao considerar que o Irã representaameaça existencial a seu país.

Como deveria então ser classificada a operação genocida em Gaza, que já vai muito além do que seria uma resposta legítima ao atentado terrorista do Hamas? "Ameaça existencial" parece pouco para designar a campanha criminosa contra o povo palestino, que o palavreado oficialista chama de "obliteração" de Gaza —a destruição, a matança indiscriminada de civis, crianças e mulheres e a inominável tortura pela supressão de víveres. E o que dizer da colonização da Cisjordânia? Algum adulto na sala realmente acredita que Netanyahu tem em mente uma "solução de dois Estados"?

Trump, que tende a considerar as manifestações de exaustão de boa parte da sociedade americana com guerras longínquas e injustificáveis, deixou-se atrair para a aventura, quem sabe por não resistir à tentação de exibir mais uma vez ao mundo o falo geopolítico e militar de seu país, que agora se confunde com o seu.

Os dois colegas de supremacismo e inclinações autocráticas são na realidade uma ameaça existencial a um mundo melhor. O republicano do movimento Maga (Make America Great Again) investe contra a ordem liberal, o livre comércio, as instituições democráticas e os direitos civis. Netanyahu é um criminoso de guerra, que coloca suas ambições acima de tudo.

Nada disso faz da teocracia que substituiu o regime do xá Reza Pahlavialguma coisa menos sinistra do que sempre foi. O mundo não é um lugar de líderes virtuosos com índole secular e democrática.

A realidade, para chover no molhado, é complexa, e o caminho da diplomacia e do multilateralismo seria o mais razoável, embora —ou por isso mesmo— poucas vezes tenha sido tão sabotado.

São sugestivos os sinais de que a ordem mundial de Trump leve em conta, do ponto de vista militar, o respeito às áreas de influência das superpotências —Rússia, China e sua América.

A Europa, ainda um polo de defesa de direitos e princípios civilizatórios, é empurrada para um limbo geopolítico —e o resultado será investir mais em militarização.

No Oriente Médio, Trump tenta dar as mãos para a ditadura monárquica da Arábia Saudita e o governo da extrema direita de Israel. Rússia e China se manifestam discretamente e não se metem.

Sendo assim, enquanto o conflito na Ucrânia prossegue e a guerra liderada por Israel também, não é improvável que a China logo se sinta mais à vontade para realizar seu projeto de anexação de Taiwan. Ameaça é o que não falta.

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