Quem defenderia a Venezuela contra um possível ataque dos EUA?
- Maduro exibe laços com Rússia, China e Irã, mas especialistas duvidam de apoio militar efetivo em caso de conflito aberto
- Entre seus aliados estão Cuba, Nicarágua, Hamas e Hezbollah
 
- Luis Garcia Casas
Quem defenderia a Venezuela contra um possível ataque dos EUA?
Maduro exibe laços com Rússia, China e Irã, mas especialistas duvidam de apoio militar efetivo em caso de conflito aberto Entre seus aliados estão Cuba, Nicarágua, Hamas e Hezbollah
Mas qual é o real poderio do Exército venezuelano e com quais aliados internacionais o país poderia contar em caso de uma escalada das hostilidades com os Estados Unidos, contra os quais, segundo especialistas, "não teria escolha"?
Exército abalado pela crise
O Exército venezuelano foi fortalecido pela fartura do petróleo na era [do antecessor de Maduro, Hugo] Chávez, mas pouco restou após o ápice de 2013 dos gastos com defesa de mais de 6 bilhões de dólares (R$ 32 bilhões).
O orçamento nacional da Venezuela para 2025 totaliza 22,661 bilhões de dólares. Desse total, apenas 3%, cerca de 657 milhões, são destinados ao Ministério da Defesa. Esse valor não inclui projetos financiados por meio de dívidas, entre eles, uma iniciativa para a modernização da Força Aérea do país. No entanto, é difícil obter uma análise mais aprofundada desses números devido à falta de transparência do regime.
Segundo estimativas da CIA, disponíveis publicamente, a Venezuela gasta cerca de 0,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa (em comparação com, por exemplo, 3,4% na Colômbia ou 3,2% nos Estados Unidos), tem "laços com as Forças Armadas da China, Cuba, Irã e Rússia" e conta com entre 125 mil a 150 mil militares da ativa, além de cerca de 200 mil membros de milícias. Soma-se a isso o apelo às armas para que civis defendam a pátria.
Lá Fora
Para a jornalista venezuelana Sebastiana Barráez, especialista em assuntos militares, armar a população nesse contexto é "muito perigoso". "Quem pode garantir que esses civis armados defenderão Nicolás Maduro quando há divisões até mesmo dentro do regime?", questionou. A Venezuela também enfrenta sérios problemas em áreas "fundamentais para qualquer Exército", como o moral das tropas e a liderança.
Barráez cita como exemplo os desertores das Forças Armadas. "Quando o Exército publica uma lista de 8.000 desertores, estamos falando de um golpe muito sério para essa instituição", disse a especialista à DW.
"Imperialismo sempre à espreita"
"O imperialismo está sempre à espreita." Essa frase sobre é extraída da Lei Orgânica do Plano da Pátria das Sete Grandes Transformações 2025-2031, promulgada em maio de 2025. A quinta transformação, dedicada à "transformação política e ao poder popular", estabelece o objetivo de "garantir a proteção da República contra qualquer forma de interferência e intervenção estrangeira". Mas também de "manter [...] o respeito irrestrito à vontade do povo". Esse, no entanto, é outro problema.
Embora, no papel, o Exército esteja severamente enfraquecido, sua capacidade de defender a Venezuela de qualquer potencial invasor não deve ser subestimada. No entanto, a situação muda quando não fica claro se o objetivo é proteger o país ou o regime de Maduro.
Barráez lembra que, durante as eleições de 2024, algumas seções eleitorais foram designadas para que os soldados votassem. Lá, a vitória da oposição, negada pelo governo, foi ainda maior do que no resto do país, afirma a jornalista. "Em outras palavras, a grande maioria dos militares votou em Edmundo González e não em Nicolás Maduro", acrescentou.
O Exército venezuelano cresceu e se desenvolveu em meio a conflitos internos —guerrilhas e golpes de Estado— e impulsionado pela fartura do petróleo, que o tornou mais bem preparado para questões internas. A CIA, em seu perfil do país, destaca que as Forças Armadas venezuelanas "também têm um papel doméstico", que inclui colaborar na manutenção da segurança interna e combater grupos armados, entre outras funções.
Outras análises também destacam essa abordagem, que prioriza o combate terrestre. No entanto, a maioria dos analistas descarta operações terrestres dos EUA contra a Venezuela ou mesmo contra focos de resistência que possam se formar em caso de mudança de regime.
Maduro diz ter "muitos amigos no mundo"
Em seu discurso, Maduro mencionou especificamente a China e a Rússia, além de "muitos outros amigos no mundo". Entre eles, Irã, Cuba e Nicarágua, bem como grupos como o Hamas e o Hezbollah, que têm presença no país, segundo diversos analistas.
Em maio, ele assinou um Tratado de Parceria Estratégica com a Rússia, que inclui "cooperação técnico-militar" em seu Artigo 14 e visa aprimorar os "laços de defesa". Pouco depois, foi inaugurada uma fábrica que produz munição para fuzis de assalto Kalashnikov sob licença russa.
O arsenal venezuelano é composto principalmente de armamentos russos, complementado nos últimos anos por equipamentos da China e do Irã.
A Venezuela também assinou um acordo de parceria semelhante com o Irã em 2022 e fabrica localmente drones de projeto iraniano. Além disso, ainda possui equipamentos da França, do Reino Unido, da Espanha, dos Estados Unidos e da Alemanha, mesmo com os embargos de armas impostos pela Europa e pelos EUA contra a Venezuela.
Cercanías
A newsletter da Folha sobre América Latina, editada pela historiadora e jornalista Sylvia Colombo
No entanto, apesar de contar com aliados internacionais, é duvidoso que tipo de apoio eles poderiam oferecer em caso de conflito com os Estados Unidos. Os países latino-americanos, em particular, são questionáveis. "Um ataque à Venezuela —não creio que haverá uma invasão— por parte dos EUA colocaria Colômbia, Cuba, Honduras e Nicarágua, e talvez a Bolívia, ao lado de Caracas", explicou à DW Rogelio Núñez, analista do Instituto Real Elcano. Ele, porém, descartou a possibilidade de envolvimento militar desses países no apoio a Caracas. "Não, jamais militarmente, no máximo solidariedade diplomática", esclareceu.
"Os demais poderão ficar incomodados —Brasil e México, ou talvez Chile e Uruguai— pelo que isso representa como interferência e violação da Doutrina Estrada, mas não sairão em defesa de um governo como o de Maduro", acrescentou. De fato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se ofereceu para mediar a crise entre os Estados Unidos e a Venezuela.
Núñez descarta, por outro lado, o apoio de outros países. "Nem a Argentina, nem o Peru, nem o Equador, nem o Paraguai, nem El Salvador, nem a República Dominicana" vão sequer manifestar descontentamento.
O que fariam China e Rússia em caso de ataque dos EUA?
"O todo-poderoso presidente chinês [Xi Jinping] é muito claro quanto às regras da China, e uma das principais é a não interferência em assuntos externos", afirmou Felipe Debasa, professor de Relações Internacionais e especialista em história militar, à DW. "Além disso, a China precisaria da Venezuela tanto quanto a Venezuela pensa que precisa dela? Minha opinião pessoal é que não", ou. "Há muitos mercados".
Em relação à Rússia, o pesquisador, que estudou o assunto a fundo usando o método Delphi —ou seja, reunindo as opiniões de especialistas renomados— também acredita que o país não se envolveria, embora admita que, se o fizesse, estaria "abrindo a caixa de Pandora". Ele, no entanto, alertou que os Estados Unidos também não estão interessados em "arriscar um conflito e começar a receber cadáveres em casa". "Como no Vietnã", lembrou. "Ou algo semelhante ao que está acontecendo com a Rússia na Ucrânia."