Três anos após o anúncio de Lula de que queria trazer a COP30 ao Brasil, a conferência da ONU sobre mudança climática começa amanhã, 10, em Belém, em meio a incertezas. Dos 195 signatários do Acordo de Paris, apenas 79 entregaram suas novas metas climáticas, que representam 64% das emissões globais, segundo o Climate Watch. A Índia ainda não apresentou sua meta, e a União Europeia só o fez no último dia 5. As metas, conhecidas como NDCs, deveriam ser atualizadas a cada cinco anos, mas a maioria dos países não cumpriu o prazo. O relatório da UNFCCC foi inconclusivo e não indicou claramente o rumo do aquecimento global. Estimativas paralelas apontam queda de 10% nas emissões até 2035, quando seria necessário 60% para limitar o aquecimento a 1,5°C. “Fechar essa vergonhosa lacuna é fundamental”, diz Claudio Angelo, do Observatório do Clima. Apesar de o acordo da COP28 ter mencionado pela primeira vez a redução do uso de combustíveis fósseis, o tema foi barrado nas negociações seguintes. Outro desafio foi a crise de hospedagem: preços exorbitantes em Belém ameaçaram a participação de países pobres. O quórum mínimo de 132 partes foi alcançado há menos de um mês, após ações do governo federal e da ONU. Os preços de hospedagem caíram mais de 60%, e 160 países confirmaram presença.
Com o número mínimo garantido, a COP30 deve focar na Meta Global de Adaptação, que busca definir indicadores para medir avanços em adaptação climática. O número de critérios caiu de 5.000 para cerca de 100, e o financiamento deve ser o ponto mais polêmico. Segundo o Pnuma, falta entre US$ 284 e 339 bilhões anuais para adaptação nos países em desenvolvimento até 2035. Para Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, a COP30 precisa mostrar que adaptação é insistir em bem viver, que a transição energética é irreversível e que o regime climático internacional segue relevante. As cobranças sobre os países ricos, principais emissores, vêm crescendo, assim como a pressão para que China e Índia também financiem a transição. Com dificuldade de mobilizar recursos públicos, o Brasil aposta na Agenda de Ação, voltada a iniciativas privadas e filantrópicas — embora sem força legal, diferente dos acordos oficiais da ONU.

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