Pesquisas apresentadas ao Ministério Público da Bahia (MPBA) indicam que o antigo cemitério, localizado no estacionamento da Pupileira, da Santa Casa de Misericórdia, em Salvador, abriga os corpos de mais de 100 mil pessoas escravizadas. A reunião sobre o tema, realizada na sexta-feira (24), reuniu arqueólogos, promotores e representantes da Santa Casa, Iphan, FGM e Ipac, com o objetivo de discutir os resultados e definir ações de preservação. O MPBA pediu o fechamento do espaço, atualmente usado como estacionamento. Segundo o promotor Alan Cedraz, é essencial proteger o local como “sítio arqueológico de memória sensível” e promover escuta social com movimentos e lideranças religiosas. A arqueóloga Jeanne Almeida apresentou os resultados da pesquisa, que identificou fragmentos ósseos humanos como vestígios do antigo cemitério. A arquiteta Silvana Olivieri e o professor Samuel Vida defenderam que o resgate desse acervo é fundamental para a memória e a reparação histórica, solicitando o reconhecimento oficial do “Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos”.
O Iphan emitiu parecer favorável à homologação e proteção da área, e o caso foi encaminhado ao Centro Nacional de Arqueologia (CNA). O levantamento arqueológico começou em dezembro de 2024, após termo de cooperação entre a Santa Casa, o MPBA e pesquisadores. Durante o processo, foi realizado um ato inter-religioso em respeito às vítimas do cemitério.
O local é considerado o maior cemitério de escravizados da América Latina. Escavações no estacionamento revelaram ossadas a 2,7 metros de profundidade, que foram cobertas para preservação. A área corresponde ao antigo Cemitério do Campo da Pólvora, que teria funcionado entre o fim do século XVII e o século XIX, abrigando também indigentes e pessoas marginalizadas. A descoberta é vista como um marco de reparação histórica e de enfrentamento ao apagamento da memória afro-brasileira.

Nenhum comentário:
Postar um comentário